A fé é uma casa com muitos quartos

domingo, 29 de junho de 2014 0 comentários
"Nenhum de nós conhece a Deus, até nos apresentarem."

Assim como Piscini Patel de "As Aventuras de Pi", eu também encontrei Deus em mais de uma manifestação religiosa. 
A forma de ver e, principalmente, sentir o sagrado é diferente e muito íntimo para cada um. Não concordo mais com o que dizem por aí, que devemos acreditar numa coisa só, seguir apenas uma crença até o fim de nossas vidas e pronto. Como espíritos milenares que somos, considero uma agressão muito forte fechar nossa mente para uma só crença. 
A religião tem uma função muito importante na vida das pessoas, que é promover a transformação profunda do ser (já lembrava meu sábio mestre e psicólogo Rodrigo). Se você atinge a sua transformação de uma forma muito positiva e significativa seguindo apenas uma religião, pois bem: siga-a e seja feliz até o fim de seus lindos dias de vida. No entanto, minha transformação legítima começou quando o Espiritismo surgiu como um presente em minha vida, com Kardec. Depois, o Budismo me veio como uma profecia sagrada onírica e, por último, e não menos importante, de forma indireta (ou direta? ou estava escrito no destino pendurado em meu pescoço por Allah?), o Espiritismo expandiu a minha mente e me mostrou a verdadeira magia e o amor profundo presentes na Umbanda. Sim, eu me sinto absolutamente completa, bebendo e pescando com a alegria os ensinamentos incríveis que tenho tido nesses três pilares religiosos que têm me sustentado e, mais do que isso, têm promovido a transformação verdadeira do ser que cada dia mais anseio em ser.

Quando Kardec pergunta aos espíritos qual é a melhor religião (questão 842 de "O Livro dos Espíritos"), os espíritos respondem que é aquela que mais fizer homens de bem pela prática da lei de amor na sua maior pureza e na sua ampla aplicação. Eu aprendi o verdadeiro significado e sentido do amor com o espiritismo e continuo vivenciando-o através dos ensinamentos de Buda e da sagrada Umbanda.

As religiões são perfeitas? Não. Eu concordo cegamente com tudo o que elas preveem? Claro que não. Mas eu consigo extrair e unir a essência do que sou com a essência pura e profundamente bela que elas têm a me mostrar e a plantar em meu coração.

Eu acho que o principal é o estudo. Não apenas o estudo doutrinário de cada religião, mas buscar conhecê-las antes de fazer qualquer julgamento imbecil e ignorante e de sair agredindo as pessoas pelas coisas que elas acreditam.

Sei que ainda escreverei sobre o divino em "As Aventuras de Pi" como prometi e provavelmente utilizarei trechos desta postagem, mas logo no início do filme é mostrado a identificação que Pi mantém com o hinduísmo, o catolicismo e o islamismo. Inclusive, logo depois de conhecer e se encantar com a história do Filho de Deus, ele faz uma pequena prece de agradecimento linda a um dos deuses hindus: 
"Obrigado, Vishnu, por me apresentar Cristo."
E, logo em seguida, Pi Patel, como narrador de sua própria história, continua:

"Eu cheguei à fé pelo Hinduísmo e ao amor através de Cristo. Mas Deus ainda não havia terminado comigo. Deus trabalha de formas misteriosas, e assim eu o conheci novamente pelo nome de Allah."

Mais à frente seu pai ainda o questiona e diz que ele não pode seguir várias religiões ao mesmo tempo, porque "acreditar em tudo é o  mesmo que acreditar em nada." E o pai diz ainda que ele não encontrará o caminho se não perseverar em um só. 
O pai de Pi é adepto firme da racionalidade, já que num momento em que mais precisou de Deus Ele teria dado-lhe as costas e apenas a ciência o teria salvado. É algo muito comum mesmo de acontecer. Às vezes parece que as pessoas propõem testes a Deus e, se não acontecer o que tanto esperam, tornam-se céticos absolutos. Acho que isso acontece porque de uma forma geral as pessoas têm uma relação muito infantil com a figura Dele e não conseguem compreender suas leis divinas e justas que nos regem, seja por rebeldia, por livre arbítrio, por incompreensão ou por falta de paciência. E eu falo isso por mim também, pois em vários momentos da minha vida eu coloquei minha fé em xeque. E, em todos os momentos da minha vida ela me salvou.

Então, na mesma cena, a mãe de Pi concorda com o marido, dizendo que sim, a ciência pode explicar as coisas externas, mas não consegue explicar as coisas que vem de dentro. O que, diga-se de passagem, eu concordo plenamente.

O que eu acho legal é que o pai de Pi, apesar de não concordar muito com a forma que o filho decide seguir sua religiosidade, expõe sua opinião de forma muito respeitosa e alerta para a fé cega, sem raciocínios, que é um ponto, inclusive, discutido com afinco e sabedoria no espiritismo, já que sua base doutrinária se estabelece no tripé fé-razão-ciência, reforçando sempre que a fé deve ser, antes de qualquer coisa, raciocinada.

E é exatamente por meio do raciocínio e da seleção lógica e coerente de informações, doutrinas e aprendizados que escolhi e defini as religiões fundamentais que auxiliam de maneira primorosa a minha evolução moral e espiritual e que tanto bem me têm feito. Ficarei "apenas" com essas três? Não sei. :)

O grande iluminado Buda, com toda a sua sabedoria dizia:

“Não acreditem em nada só porque lhes foi dito. Não acreditem na tradição apenas porque foi passada de geração em geração. Não acreditem em nada só porque está escrito nos seus livros sagrados. Não acreditem em nada apenas por respeito à autoridade de seus mestres. Mas qualquer coisa que, depois do DEVIDO EXAME e ANÁLISE, vocês achem que leva ao BEM, ao BENEFÍCIO e ao BEM-ESTAR de TODOS os seres - nesta doutrina, creiam e aferrem-se a ela e a tomem como guia.”

E pra terminar, segue abaixo o diálogo entre Pi e o repórter que eu considero genial:

- Você é cristão e islâmico?
- E hindu.
- E judeu, eu suponho.
- E ensino a Cabala na universidade. E por que não? A fé é uma casa com muitos quartos.
- Não há espaço para dúvidas?
- Muitos, em todos os andares. Isso é útil, mantém a fé viva. Não sabemos a força da fé até sermos testados.

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