O despretensioso rimbaudiar de uma poeta careta

domingo, 29 de junho de 2014 0 comentários
Bom, eu sempre demoro mil anos para escrever aqui no blog (quando já deveria ter voltado há muito tempo, pois sempre há textos prontos na minha cabeça de poeta-psicológica), e eu voltei para falar sobre um livro que muito me esclareceu sobre Rimbaud: "Rimbaud - A Vida Dupla de um Rebelde" por Edmund White.

Me lembro que no meu segundo período de graduação (em Letras) fiz uma trabalho sobre Rimbaud para a aula de Teoria da Literatura II, cujo foco era a poesia. Logo, no trabalho me concentrei mesmo no aspecto poético do poeta. Eis que, anos depois, eu resolvo pegar para a leitura de férias um livro que trata de sua vida e de seu relacionamento com o também poeta Verlaine. Pensei: "Agora eu quero realmente saber quem foi Rimbaud." E agora eu sei. Claro que isso não é nada se comparado ao que "todo mundo gênio e cult" sabe, mas para mim é o suficiente. Não me perdoaria se passasse essa vida sem saber da verdadeira história por trás do mito.
E, o que percebi ao longo de tudo e de uma maneira geral é que a necessidade de transgredir é algo que impulsiona os grandes poetas, escritores, os grandes artistas como um todo. A transgressão é o foco da genialidade, ou, se não o foco, é a grande impulsionadora, é o estopim, o trampolim para saltos altíssimos e inesquecíveis.
A começar pelas personalidades um tanto quanto psicopatas, sociopatas, humanopatas, antropopatas, bipolares, quadripolares e todas as variações (inventadas ou não) para comportamentos que eu, Flávia, (e uma parte considerável da sociedade) considera exagerados, violentos ou completamente distorcidos da realidade. No entanto, não estou dizendo isso como a "julgadora moral suprema" que preza pelos bons costumes e pelo bom comportamento da sociedade mundial (ainda que pareça ser essa a minha postura). Mas, durante a leitura do livro, percebi que todos esses comportamentos foram e são importantes para que grandes obras fossem criadas, para que grandes mitos se consolidassem. A maior parte dos grandes gênios que conhecemos e que foram eternizados possuíam (e possuem) vícios incontroláveis e uma necessidade (involuntária? inconsciente?) de autodestruição e de um desgaste muito profundo de coisas e pessoas à sua volta.
Parece que a fuga da realidade boçal e da mesmice em que vivemos através do álcool, drogas ou do sexo desvairados e/ou desregrados exercem uma magia que impulsiona a genialidade (será?).

Enfim, o fato é que no fim do livro eu achei a vida real de Rimbaud extremamente miserável e desgraçada. Ainda me assusta ler biografias, ensaios, artigos ou pseudobiografias de grandes mitos e ver o quanto suas vidas foram deploráveis.
Eu sempre me pergunto: será que preciso ter esses tipos de comportamentos para virar uma grande poeta e uma escritora renomada? Isso tudo, confesso, me causa uma angústia sem precedentes, pois sei que tudo o que eu consigo ser é isso: uma escritora que tem uma vida poeticamente careta.

O que me conforta é saber que boa parte dos ídolos escritores que tenho foram (e são) pessoas comuns, sem grandes vícios e sem grandes problemas com a autodestruição excessiva de si. Assim, vejo um rastro lúgubre de esperança para a minha vidinha de escrita pacata.

Apesar de todo esse mimimi aparentemente cheio de moralidade, eu estou, sim, completamente apaixonada pela poesia doida e genial de Rimbaud (sim, é impossível não repetir esse adjetivo setenta vezes sete quando se fala dele) como nunca estive antes em minha vida. E o Sr. Verlaine também conquistou meu coração, não com sua fraqueza existencial, mas com a sua lealdade, que foi crucial para o nome e a poesia audaciosa de Rimbaud nunca deixar de ecoar por todos os cantos da Terra.

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