Crise? Tá teno!

domingo, 5 de junho de 2016 0 comentários
Bom, ontem tive minha primeira crise de ansiedade em público e envolvendo meus amigos e o meu parceiro. Se foi a primeira crise da minha vida? Não, mas foi a primeira em que eu não consegui ter controle das coisas e me perdi.

Eu sempre ouvi falar de ressaca moral e ficava tentando entender como seria isso, já que nunca bebi o suficiente para ter uma. Mas hoje eu posso falar de como eu estou me sentindo após tudo o que aconteceu ontem, e acho que pode ser parecido: vergonha e culpa.

Antes de mais nada, precisamos falar sobre os transtornos de ansiedade (apesar de não saber ainda se estou de fato vivenciando um deles). Infelizmente eu não sei tanta coisa assim a respeito, mas sei que as pessoas de fora não compreendem muito bem. Principalmente as pessoas mais próximas a nós. Às vezes parece que elas acham que a gente gosta de ser assim, de ter essa ansiedade que acaba com a gente. Ou que é fácil controlar etc. Olha, se fosse fácil, eu escolheria nunca senti-la.

Creio que o problema da ansiedade, analisando o meu caso, especificamente, é que ela vem acompanhada de várias coisas, mas o principal elemento é o medo. É tanto medo, tanto, que a gente só consegue pensar nas besteiras que podemos fazer guiados por ele. E, quando achamos que fazemos, a sensação de culpa e de fracasso vem com tudo pra cima de nós, e, aí, caímos no abismo novamente.

Precisamos falar também sobre o medo da crise, que acaba gerando uma ansiedade maior e, consequentemente, outra possível crise.

Sobre a sensação de vergonha, ela vem porque a gente se sente extremamente frágil e fraco. E, desde que esse sistema social que conhecemos existe, a gente aprende que não pode ser fraco. Que não pode chorar, que não pode se entregar e demonstrar afeto e amor por quem estimamos, porque seremos destruídos, que temos que dar conta do mundo inteiro. E esse sistema extremamente massacrador e sufocante faz parte de mim. Faz parte de uma parte muito grande de mim. Faz parte do meu cérebro, inclusive. E quando a gente falha, o medo vem mais forte ainda. Ele aponta pra nossa fraqueza e diz que ficaremos sozinhos, que seremos abandonados, que não somos bons o suficiente pra nada, muito menos pra ser amados. Bom, sendo assim, sejam bem-vindos aos meus esquemas cerebrais. Acabei de apresentá-los a vocês. Viu como não é tão simples quanto parece? Pois é, não é mesmo. :(

Nos últimos meses a vida me colocou frente a frente com uma terapeuta maravilhosa e que agora está me ajudando a lidar com os meus esquemas. Mas eles são tão fortes, tão fortes, que toda vez que eu tento alterá-los conscientemente eles me derrubam, e eu fico como fiquei ontem. E eu fico como eu tenho ficado nos últimos tempos. E eu tenho tentado ser forte pra resistir, pra entender a forma que eu vou agir em toda e qualquer situação, pra tentar controlá-los para que eles não me destruam, mas em muitos momentos eles ainda são mais fortes que eu, que a minha vontade legítima de mudança.
Os nossos esquema neurais são os responsáveis por criar e sustentar as lentes pelas quais vemos o mundo e as pessoas ao nosso redor. E eu tenho muitas lentes embaçadas. Você que está lendo isso tudo também tem. E olha, eu estou numa epopeia e numa luta profunda pra desembaçar as minhas lentes. E é preciso ter paciência. Eu preciso ter paciência comigo mesma acima de tudo. E amor.

Mas eu preciso dizer também sobre as pessoas que nos cercam. Só porque temos um problema (o que está sendo difícil de aceitar, inclusive), não significa que estamos nos fazendo de vítimas ou que somos uns coitados. Às vezes as pessoas que mais amamos não sabem como se portar quando estamos com um problema desse nível. E, principalmente pela experiência de ontem, eu preciso dizer também: tentem ficar calmos. Porque a gente fica TÃO desesperado que dá vontade de gritar e de desaparecer. Dá vontade de sumir da face da Terra e chorar pra sempre. Isso tudo aliado a todos os pensamentos descoordenados, pois, como eu disse, a culpa e a vergonha vêm com tudo. Ontem eu só conseguia chorar sem parar e pensar na merda que eu tava fazendo com a minha vida e que não conseguia controlar. Na tristeza e solidão que eu estava sentindo e que não conseguia preencher. No medo, na culpa, na pressão, nas pessoas olhando pra mim, na minha fragilidade e na minha fraqueza. Ontem eu vi o quanto somos falhos. O quanto eu sou falha e o quanto eu ainda tenho imensa dificuldade em lidar com a minha falibilidade, porque sempre que eu falho e erro eu acho que as pessoas vão deixar de ficar perto de mim e de me amar. E isso faz parte de um dos meus esquemas, por isso ainda não consegui mudar esse aspecto até hoje.

Nesses momentos a gente só precisa de que alguém nos abrace forte e nos deixe chorar em paz e com sossego. A gente pode ficar muito confuso na hora, porque há muita confusão interna, os esquemas atacam a gente com toda a força, mas tenham paciência. Só abraça, só afaga, só faz com que a gente se sinta um ser humano digno de amor e compreensão num momento de falha e fragilidade profunda. 

Eu posso falar sobre mim: eu quero muito viver. Eu quero muito realizar os meus sonhos. E eu sei o quanto eu estou me cuidando pra ser um ser humano melhor pra mim mesma. Estou buscando ajuda. E, por incrível que pareça, eu tenho tido mais coragem. Por exemplo, por muito tempo eu não conseguia demonstrar minhas fraquezas pro meu companheiro. E sempre tinha medo de fazer perguntas ou de falar certas coisas porque eu tinha medo do que poderia vir de volta (perceberam o medo aí de novo?). E eu me calava. De uns tempos pra cá eu tenho me apoiado em alguma coisa que ainda não sei nomear ainda e tenho tido mais coragem de ter voz. Mesmo que ainda haja medo ou incompreensão. Mas acho que a coragem tem que ser mais forte que tudo isso. Enfim, vou caminhando.

Pra finalizar, acho que só agora, escrevendo, que eu estou conseguindo organizar melhor as coisas na minha cabeça e fazendo com a que vergonha diminua.

E eu preciso dizer mais uma coisa: ontem uma amiga incrível me ajudou a vivenciar essa crise difícil de ansiedade. Mesmo de longe, parecia que o tempo todo ela segurava a minha mão. E dizia pra mim que eu podia, sim, ser imensamente falha e humana porque ela estava ali. Que eu podia chorar o tanto que eu quisesse sem me importar com nada, nem com as pessoas olhando. Que mesmo me sentindo horrível, as coisas iam ficar bem. E que sim, ela continuaria ali me amando mesmo na minha fragilidade e total falta de controle. E eu nem consigo dizer pra vocês o quanto isso me curou e salvou meu coração do abismo.
Outro amigo meu largou tudo o que estava fazendo e foi me buscar numa avenida movimentada da cidade. Depois me distraiu e me fez sorrir. E acabei conhecendo pessoas lindas ontem, depois de tudo.
O nego sempre vai ser o meu parceiro. Ele ficou tão perdido e confuso que nem sabia o que fazer pra me ajudar. Mas ele tentou. Ele sempre tenta, mesmo às vezes enfiando os pés pelas mãos. Ele não desiste. Do jeito dele, mas continua ali.

E eu não tinha percebido até agora, escrevendo isso, mas ontem eu demonstrei toda a minha fragilidade. Os esquemas mais difíceis que me moldaram e que eu estou, bravamente, tentando reconstruir. E eu me senti muito culpada por isso depois. Até agora, ao escrever isso tudo aqui. Mas, de alguma maneira, acho que me fiz humana. E decidi aceitar isso.

A luta continua. É sempre um dia de cada vez. Eu espero que as crises de ansiedade possam ir embora e que os esquemas encontrem logo um outro caminho pra me ajudarem a sobreviver. Mas tem que ter paciência. Eu tenho. Por favor, tentem ter também?

Minha amiga disse que eu não preciso ter vergonha porque isso tudo mostra o meu caminho e as experiências que eu vou superando. Achei bonito. Desde ontem eu fico relendo as coisas que ela me disse e vou ficando mais calma.
Acho que no fundo a vida é puramente um resgate infinito da dignidade que achamos que perdemos, mas que sempre vive em nós. Acho que a vida é mesmo sobre ter coragem. Sobre persistência. Sobre amarras soltas. Sobre entregas sinceras e desprendidas do medo. Acho que a vida é sobre a paz e o amor.
E há uma esperança profunda que de, algum dia, enfim, eu encontre tudo isso. E eu espero de que você possa encontrar também. :)

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Oiii! :D