Eu ainda não me sinto livre pra sair com a roupa que quiser, na hora que quiser, sem que um homem ache que tem direitos sobre meu corpo por causa disso.
Eu ainda não me sinto respeitada na rua, já que um homem sempre acha que meu corpo é público e que pode fazer comentários invasivos sobre mim.
Eu ainda tenho minha voz silenciada por homens em discussões porque minha opinião não é importante, pois sou mulher, enquanto a mesma opinião é ouvida, se dita por outro homem.
Ter uma vagina ainda significa que as obrigações domésticas e com crianças são minhas, mesmo se eu trabalhar e sustentar a casa, parcial, integralmente ou não (e eu tenho que levantar as mãos pro céu e agradecer por ter um homem que 'me ajude' lavando a louça vez ou outra).
Pra ter minha carteirinha de mulher e ser aceita socialmente, preciso ter minha imagem o mais próxima possível das modelos de capas de revistas (que só existem lá), enquanto o homem que estiver ao meu lado pode ter a aparência que quiser e não será chamado de desleixado, não ouvirá coisas do tipo "se não se cuidar ela vai procurar outro", como se a base de um relacionamento fosse a beleza.
Pra ter a carteirinha é preciso ainda ser delicada, amorosa, romântica, 'de família', não falar palavrão, saber cozinhar (é... porque a partir do momento em que se aprende a cozinhar já pode casar, não é mesmo?) lavar, passar, ser boa mãe e, ainda, dar conta do maridão. Resumindo: ser uma empregada e babá com serviços extras.
Ahh, esqueci que um passo importante pra ganhar a tal carteirinha é ter nascido com uma vagina. Então nem pense em ser respeitada se a sua não for original de fábrica. Por quê? Porque não, ora! Que audácia a sua querer discutir com homem. Cala a boca e vai pra cozinha!
Eu ainda vejo mulheres sendo agredidas diariamente por serem mulheres, porque não fizeram o jantar, porque olharam torto para o marido, porque falaram o que um homem não queria ouvir, porque traiu o companheiro, porque a criança chorou, porque ele estava bêbado, porque ele precisava descontar sua raiva em alguém...
Eu ainda vejo homens sendo estimulados a estudar, enquanto mulheres são estimuladas a aprender serviços domésticos.
Eu ainda ouça piadas machistas e sem o menor cunho científico sobre minhas habilidades em atividades que os homens julgam ser deles, como dirigir.
Mas ok, eu já posso votar e trabalhar. Deveria levantar as mãos pro céu e agradecer, não é mesmo?
Podem guardar as suas flores e os seus parabéns. Como presente, eu quero que você repense seus privilégios e me dê respeito durante os 365 dias do ano."
3 comentários:
Esse texto da Angélica realmente é demais! (como várias outras reflexões delas). Realmente não há muito o que comemorar, a luta continua...
Bjos!
Taíse
O dia internacional da mulher não é um dia de comemoração, é um dia de reflexão. A nossa luta só foi iniciada no dia 8 de março de 1917, ainda temos muito o que fazer! E não é uma luta nada fácil, pois como você disse, as próprias mulheres não só aceitam como reproduzem e às vezes até impõem esse preconceito!
Oi, minhas lindezas! Sim, a luta não pode parar. O respeito deve ser o lema da vida, do mundo inteiro! :)
Obrigada pelos comentários e pela visita ao meu blog. =*
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Oiii! :D