Só para mulheres #32

domingo, 5 de maio de 2013 0 comentários
MINHAS impressões sobre o livro "O fantástico mistério de Feiurinha"
Parte 1

Logo no início o livro propõe uma discussão sobre o "felizes para sempre" presentes em todos os contos de fada. Sendo assim, durante a narrativa isso vai sendo desconstruído de uma forma muito sutil, ácida e genial (essas são as minhas opiniões, o que não quer dizer que foi exatamente isso o que o autor quis passar).
Ele começa especulando essa coisa de que toda mulher se casa com seu príncipe encantado e vive uma vida perfeita, felizes para sempre: não, não vivem. E para dizer isso ele se baseia exatamente nos contos de fadas.

No livro, as princesas mais famosas dos contos de fadas (Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel, Bela Adormecida, Bela etc.) estão todas casadas há 25 anos (comemorando Bodas de Prata) e todas estão grávidas. Com exceção de Chapeuzinho Vermelho que é a encalhada e a triste da história porque não tem o seu príncipe encantado e terminou sua história vivendo com uma velha caduca. Sendo assim, Chapeuzinho é a única que não herda o sobrenome "Encantado" por não ter se casado com um Príncipe Encantado. Logo, todas as princesas ganham um nome de casado e se reconhecem como Cinderela Encantado, Branca Encantado, Rapunzel Encantado e assim sucessivamente (e são todas cunhadas porque os príncipes encantados são todos irmãos, herdeiros da Família Encantado). Chapeuzinho Vermelho, portanto, é a única frustrada e que não compactua das inúmeras coincidências de vida entre as outras princesas casadas, grávidas e com um linda história de amor.

À medida que fui lendo o livro fiquei pensando na nossa sociedade, no quanto ela é cruel com as mulheres, mas principalmente no quanto as mulheres são cruéis umas com as outras. Fui lendo e achando todas as princesas iguais, a mesma vidinha do "felizes para sempre" e confesso que achei aquilo extremamente monótono e chato. Chapeuzinho Vermelho que era feliz por ser a única  com uma vivência diferente e não percebia isso. Diferente, por não ter tido a vida de casada-felizparasempre-grávida-perfeita das outras princesas, mas ela estava totalmente frustrada por não ter isso.

Pra mim, as partes mais divertidas do livro são aquelas em que as princesas se insultam e brigam histericamente pra ver qual história de amor é mais bonita e o desespero que elas ficam ao pensar que esse "felizes para sempre" pode acabar. A palavra é essa: desespero.
Logo, olhei pra minha vida real e vi a quantidade de mulheres noivas ou que estão se casando e que realmente (olhando friamente e desconsiderando o afeto que sinto por elas) parece uma disputa quase que olímpica, pra ver qual vestido é mais bonito, quem vai conseguir se casar primeiro, quem teve o namoro mais bonito, quem terá a igreja mais luxuosa, quem gastará mais no vestido, quem terá festa, qual será o tipo de arranjo, a cor da decoração, ENFIM. Pensa-se em TUDO, menos na vida real. O noivo então, coitado, é o menos citado e não tem direito de escolher nada. Pensa-se em tudo, menos na possibilidade de tudo dar errado e a pessoa querer se matar depois porque não vai suportar a realidade dura por ter criado uma expectativa EXTREMA de felicidade eterna e inquebrável, por ter criado um conto de fadas IMENSO em que será feliz para sempre.

Sim, eu estou generalizando (só que nem tanto porque vocês sabem que é assim mesmo que acontece. E eu conheço mais de 15 pessoas noivas, sei o que eu to falando. Mas é ÓBVIO que nem todas agem assim). Mas entendam: não sou uma pessoa amarga, recalcada e não estou jogando praga pra ninguém. Não sinto inveja ou despeito por essas coisas e me causa uma profunda raiva (e tristeza) quando eu digo o que penso e as pessoas me julgam achando que sou mal-amada porque não estou namorando ou não estou noiva (ou nem sou casada). As pessoas não respeitam minha opinião, mas eu sou obrigada a aceitar a opinião delas. Ok! Vão se fuder.

Eu já quis muito me casar, mas hoje em dia eu simplesmente não sei. E gostaria que as pessoas não julgassem a minha solterice da mesma forma que procuro não julgar o caminho de quem escolheu se casar. Ser solteiro não é sinônimo de fracasso ou de falta de amor. Eu poderia ter me casado com o meu primeiro namorado, por exemplo, mas não quis. Acho que a felicidade é uma construção muito íntima de cada um e ninguém respeita isso. As pessoas REALMENTE acham que sabem alguma coisa sobre a felicidade do outro. Deixa eu falar uma coisa: NÃO, NÃO SABEM. Conheço várias pessoas lindas que são maravilhosamente felizes porque são solteiras e outras que são da mesma forma porque escolheram se casar. Pronto, é assim. Cada um escolhe o seu caminho e ninguém tem nada a ver com isso.

Voltando ao livro, achei que a primeira parte faz uma super crítica a esse imaginário social-feminino todo. Pedro Bandeira também aponta de forma muito sutil os defeitos das princesas, dos príncipes   e mostra que não, o casamento com um príncipe encantado não é essa coisa plastificada e irreal que todo mundo pensa. Acho que essa coisa toda do casamento é tão fantasiosa e imaginada que as pessoas não colocam os pés no chão e não raciocinam, não pensam que vão se casar com outro ser humano cheio de defeitos como a si próprio. É uma coisa natural, mas ninguém se casa com os defeitos do outro. As pessoas só se casam com as qualidades e quando os defeitos aparecem entram em depressão, ficam reclamonas ou simplesmente não suportam e se separam. Alguma coisa se quebra fácil demais, o respeito vai pro saco e passam a se odiar. Fim.

O mais legal do livro é que, apesar dessa crítica toda que eu vi a respeito do casamento e da sua perfeição imaginada, Pedro Bandeira não o detona por completo. Ele apenas tenta desconstruir um pouco essa fantasia para algo mais real, mais pé no chão, mais humano. Ao terminar de ler o livro eu não quis simplesmente nunca me casar ou achar o casamento uma besteira. Pelo contrário, é possível pensar sobre ele e tirar, levar, deixar um monte de coisa boa. As coisas boas que ficam, que são vividas diariamente, isso sim é o mais importante.
Assim ele discorre sobre os contos de fadas: que eles estão e são eternizados porque permite com que as pessoas sonhem com essas coisas, porque conseguem extirpar coisas boas, esperanças dos corações de quem os lê. Logo, Pedro Bandeira diz às princesas para que não se preocupem porque elas não irão desaparecer assim de uma vez, porque o pra sempre está eternizado dentro dos corações das pessoas. Dentro das coisas boas, das coisas boas que permanecem.

Confesso que li metade do livro com os olhos cheios d'água e pensei em como nós mulheres somos bobas, porque deixamos e permitimos que a sociedade nos massacre de uma forma totalmente desumana. Nossos próprios amigos nos massacram de uma forma desumana, talvez, porque eles mesmos não percebem que fazem parte desse imaginário desumano todo e que também foram e são massacrados por ele. Mas ao invés de recuar a esse sistema fodido não: eles avançam e passam pra frente, perpetuando "A maldição do massacre social eterno".

Depois que eu terminei de ler esse livro eu pensei "Meu Deus, o mundo está mesmo todo errado e ninguém percebe isso!" e me senti orgulhosa e feliz nesse momento por estar solteira, por não estar noiva, por não estar casada. Não porque eu acho isso ruim, pelo contrário. Mas fiquei feliz por saber que eu estou num momento que é SÓ MEU e que não diz respeito a mais ninguém. Por ter consciência de ser diferente, por ter uma vivência diferente das outras pessoas, mas principalmente por sentir alegria em ser diferente, por QUERER ser diferente. Por não querer que a minha vida seja igual a tudo o que se vê, igual à toda essa crueldade moral e psicológica que se vê e que tentam (e conseguem) implantar em nós.

Não mulheres, não há problema algum em ser casada, juntada, solteira ou noiva. O problema maior está em achar que a sua noção de felicidade tem que ser a mesmíssima noção do outro. O problema maior estar em achar que se sabe mais sobre a felicidade do outro que o próprio outro: não, não sabe. 
Enfim, o problema maior está em achar que a SUA noção de "felizes para sempre" é igual a noção do outro. Pois me acredite: NÃO, NÃO É.

Então, o que eu desejo é que você encontre a sua noção de "felizes para sempre" e me deixe, ME PERMITA ser feliz para sempre do jeito que eu bem entender.

É isso.
Depois escrevo sobre a segunda parte do livro, sobre o real mistério da Princesa Feiurinha. s2
=]


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Oiii! :D

Cesto de maçãs